domingo, 30 de dezembro de 2012

ferida aberta

lembram-se de vos ter falado do atropelamento da minha tia? quase um ano depois ela continua numa espécie de coma, que desespera aqueles que a amam.
hoje fui visita-la à clínica de cuidados continuados, onde está internada há mais de meio ano, e ela está exactamente como estava quando a fui visitar há meio ano atrás. está linda e serena, mas não se mexe, não fala, não se sabe se ouve, abre apenas um olho, porque um nervo do outro foi afectado com o acidente, e reage a muito poucas coisas. o seu estado clínico não evoluiu. 
o meu tio, marido dela, tem-na ido visitar todos os dias e começa a perder a esperança, disse-me ele hoje. a psicóloga diz-lhe que ele tem de reagir, que a vida continua, que não deve ir visita-la todos os dias, mas ele não consegue não ir. 

embora não o sinta, como ele sente, acho que o consigo compreender muito bem, como pode a vida continuar perante uma situação destas? quando uma parte de nós está numa cama de hospital?

a vida continua quando perdemos um ente querido, nós, os que ficamos, somos livres de chorar a perda, de sentir a falta e de acabar por guardar as boas recordações, mas num caso como este perde-se, sente-se a falta e recorda-se quem ainda cá está! quem ainda pode voltar!! é uma ferida aberta, por tempo indeterminado... é tão, mas tão triste!! e como pode a vida continuar?

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